terça-feira, junho 26, 2012

farewell

Eu coloquei meus óculos sobre o nariz. Uma última vez eu diminui a luz, esperei você entrar. A gente era assim, de se entender assim, fácil. Não precisaria mais que isso.
Eu estava te esperando com a mesma cara de sempre... você estava tão diferente. Ainda assim, eu sorri. Era você! E doía.
Acendi um cigarro, coloquei uma música.
Eu conhecia cada palavra que sairia de sua boca, e, paciente, só esperava que pudessemos sentir nossa música. Ah, nossa música... conhecida entre as lágrimas de duas pessoas tristes, falavam sobre adeus. Lembro de nossa primeira conversa assim, grandes amigos falavam abraçados sobre a despedida e sobre os corações partidos em milhares de pedaços. Meu deus, que agonia te ver sofrer. No consolo do abraço de um amigo, erámos muito mais, sentia que a nossa ligação ultrapassava os limites, éramos uma loucura. Lembra? Você disse dessa nossa "conexão".
Enfim, quando fomos nós e o adeus, doeu mais. Hoje ainda dói.
Talvez, por isso, lembro como se fosse hoje.
Coloquei nossa música triste e te disse, como nas primeiras lágrimas, "eu não abandono ninguém, infelizmente, você é quem vai ter que me deixar". Você enlouquecia sempre, na primeira briga, quando disse que algum dia você me abandonaria, você me xingou, falou sobre covardia, sobre tristeza, sobre... mim. Você conhecia exatamente cada pedaço do meu sorriso triste. Mas sabia também que eu não abandono ninguém... não deixo ninguém no caminho. Esse era você.
Era fundo, muito fundo sofrer assim. Te ver indo. Foi exatamente assim que você falou: "Eu preciso ir".
E foi.
Você não ficaria por mim. Não que isso não me doesse. O recalque sempre foi o nosso sobrenome, mas, no meu caso, eu não reconheceria nada disso. E não era covardia, e você sabia. Era só pra cuidar de você. Enquanto eu não sofria, você se refazia, e eu sofreria por nós. Eu sou forte o bastante pra isso. Meus braços aguentam, são compridos, estão sempre abertos... você sabia.
As suas costas largas aguentariam uma outra loucura. Talvez parecessem com o que a gente era, você já tinha vivido alguém assim, de amar muito, pra sempre, não?! Você o deixou, exatamente igual.
Eu não queria sofrer por antecipação. Deixei você falar... Você disse que era muito pra você e iria... sem mim.
Apaguei o cigarro, sequei sua lágrima. Falei uma última vez: "Eu te amo. Como a alma é capaz. Talvez mais... E a gente, findou...". Sai e você ficou, como se eu tivesse te deixado.
Só pra sofrer mais. Você é desses que sofre demais. E é tão bonito.
Nossa despedida não teve nenhuma frase de efeito. Me mudei de cidade logo, você sorriu com tantos outros amigos. Pensei em te ligar, você também pensou o mesmo, eu sei... Não fizemos e findamos.

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